5 de setembro de 2015

Quando fingir não é o melhor remédio.


por Douglas Weege

É comum as pessoas utilizarem diversos mecanismos para que não enfrentem seus problemas. Isso ocorre ou pelos problemas se mostrarem a cada um como se fossem insolúveis ou por haver certo medo de que o enfrentamento de um problema gere inúmeros outros. Entre as diversas possibilidades de solução, diante desses incômodos, está, parece, o fingimento. Parece haver certa aceitabilidade que fingir é sempre o melhor remédio. Mas essa visão e posição acerca dos ditos problemas pode lançar o indivíduo num poço sem fim, que só na completa escuridão, do fingir ser o que não é ou estar onde não está, manifesta-se a (quase) impossibilidade de ver alguma luz novamente.


Quem sabe o maior culpado, se é que existe algum acerca dessa opção, seja o que chamamos de medo. O medo de enfrentar determinadas situações leva o ser humano ao fingimento. Esse é o caminho, porque não dizer, mais fácil, mais comum, mais desumano. Sim, desumano. Na medida em que o medo toma conta do indivíduo e o mesmo o impede de reagir ou de enfrentar qualquer situação, de maior ou menor grau, o mesmo se infere numa dimensão de desumanidade completa.

Não é humano quem não luta por si. Não luta por si quem encobre-se com um personagem, com uma ficção, com um fingimento e ilusão. Ilude-se quem acredita que fingir sempre é o melhor remédio. O melhor remédio é não precisar usá-lo, a ponto de ser capaz de arrancar de si o medo que está a cada dia a castigá-lo. O medo castiga na medida que maquina. Maquina o não ser para o ser, com intuito de ludibriar, enfadar, enganar. Mas engana tão somente a si mesmo pelo tempo que finge, que sofre, que se medica insanamente com a máscara, com a farsa e com a carcaça de alguém que mente e não entende que nenhum remédio cura a hipocrisia.

Como e sabido, Sócrates já alertou a um bom tempo atrás, conforme Platão, que "uma vida não questionada não merece ser vivida". Ora, é fácil conceber que a hipocrisia é irrefletida, uma vez que o hipócrita engana instantaneamente a si mesmo no momento da atitude falsa e fingida. Ninguém que se propõe a pensar e refletir namora com a hipocrisia. Do contrário, a reflexão possibilita a análise e busca de resolução da realidade, do problema real.

Na vida, este parece ser um grande desafio. Desafiar-se a ser verdadeiro, a enfrentar a mentira, a esclarecer a origem de um problema e resolvê-lo. Mas, de modo geral, o bicho homem, como gostava de chamar Nietzsche, opta pelo caminho mais fácil, o caminho mais leve, o caminho da ilusão. Pena que majoritariamente poucos experimentam a vida na sua existência.

















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