De fato, não é de hoje que se pensa em relação ao que chamamos de idéias inatas. Realmente as respostas encontradas a respeito, seja a favor ou contra, não são satisfatórias, do contrário, esta ou aquela posição seria universalmente aceita.
É importante ressaltar inicialmente o que se entende por idéias inatas. Pois bem, de forma intuitiva e sem muito compromisso com detalhes intelectuais, dizemos que idéias inatas são aquelas que nos acompanham desde o nosso nascimento. Nascemos com tais idéias e não se faz necessário aqui pensar como tais idéias foram parar em nosso intelecto.
Por isso, a pergunta “É possível que tenhamos idéias inatas?” não é tão complicada de ser respondida e já saberemos por quê. Entretanto, outra pergunta que poderia ser feita é extremamente mais complicada, isto é: “Existem idéias inatas?”. Se tratando da “possibilidade da existência” e não da “existência”, propriamente dita, de idéias inatas, diria que sim! É possível existirem idéias inatas. Todos irão concordar que é muito mais confortável assumirmos uma postura diante de uma “possibilidade de existência” do que da “existência”, propriamente dita.
Bem, sabemos das posições filosóficas existentes a respeito das fontes de conhecimento, isto é, o racionalismo e o empirismo. Como principais racionalistas estão Descartes, Spinoza e Leibniz; e como principais empiristas Locke, Berkeley e Hume. Ora é com base nesses filósofos e as teorias elaboradas por cada um deles que podemos afirmar a existência ou não das idéias inatas. Quero, no entanto, fundamentar a possibilidade da existência de idéias inatas nos filósofos Descartes e Hume.
É muito interessante a posição que Hume assume, onde as idéias não passam de cópias de nossas impressões sensoriais. Basicamente, ele define que nossas idéias nascem ou tem origem a partir de nossas percepções. Sendo assim, as idéias nada mais são senão efeito de uma causa anteriormente estabelecida (percepções). Para Hume, isto não acontece apenas em formas do tipo causa e efeito, mas também, no que concerne tempo e lugar, isto é, contigüidade e, por fim, semelhança. Ora, algo extremamente preocupante no pensamento de Hume é a generalização extrema que é possível enxergar. Por quê? Bem, ele não apenas descarta a possibilidade de existirem idéias inatas, como também, desagrega toda noção de conhecimento. Minha pergunta a Hume seria: Se todas as idéias têm origem nas impressões, de onde surgem tais impressões e percepções? Posso concordar que talvez algumas idéias surgiram a partir de percepções anteriores, mas afirmar isso e afirmar que todas as idéias, sem exceção, surgem a partir de nossas percepções parece ser um exagero.
Descartes diferentemente de Hume, atenta para a possibilidade de idéias inatas. Ele exemplifica tais idéias através das idéias de: extensão, mente e deus. Não há como provar para ninguém que ele próprio como matéria não ocupa lugar no espaço. Até mesmo um criança, ao nascer, expressa-se imediatamente exigindo um lugar no espaço. A idéia de mente é outra idéia que Descartes menciona e que é majoritariamente aceita, ou seja, o ser humano é por natureza um ser pensante, isto é, um ser que tem mente ou que mentaliza. Enfim, a idéia de deus. Não cabe aqui a discussão da existência ou não de deus. Não é esse o objetivo. É importante notar a relação por natureza que homem tem com o transcendente, traduzido por Descartes como deus. Podemos dizer sem dúvida que a idéia de um ser superior, metafísico, seja o que for está inserido em todo ser humano desde o seu nascimento. Essas idéias inatas podem ser examinadas a vontade, pois o seu conteúdo é imutável.
Vale ressaltar, para concluir esta breve reflexão, que entre uma generalização extrema e uma possibilidade, ainda que fosse remota, é preferível, neste caso, adotar uma possibilidade em lugar da exatidão. De fato, existem coisas no ser humano que parecem ser pré-existentes, mesmo que incompreensíveis e inexplicáveis, mas que valem a pena ser entendidas como aspectos que acompanham o homem desde a sua existência.
Reflita, questione e tire suas próprias conclusões.
por: Douglas Weege
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