23 de janeiro de 2015

Sobre a curiosidade


por Douglas Weege

Dizem que a curiosidade mata, mas tenho a sensação que o que mata mesmo é a falta de desejo em saber. Atribuem a Eça de Queiróz a seguinte afirmação: "Curiosidade: instinto que leva alguns a olhar pelo buraco da fechadura, e outros a descobrir a América". Se há dois tipos de curiosidade não sei, mas a que interessa aqui é essa capaz de descobrir um continente. Do contrário, se for para olhar pelo buraco da fechadura, que seja pela porta do conhecimento.

Tenho sentido falta de pessoas curiosas. Fundamentalmente curiosas em saber. Essa saudade que toma conta de mim não se refere apenas ao meu ambiente de trabalho, mas em todos os outros. Assim como vejo a falta de desejo pelo saber no ambiente escolar, percebo-o também claramente em outros ambientes. Parece que, de maneira geral, as pessoas foram tomadas por um certo comodismo, do tipo que lança a pergunta mais repugnante e miserável possível que alguém pode fazer: pra que saber?

Não é novidade para os poucos que me leem que gosto de culpar e muito, para o fato de as pessoas em sua maioria terem esse pensamento, o capitalismo. Essa primazia do capital na vida dos indivíduos tornou-os indiferentes em relação ao saber. Basta pensar como os jovens há algum tempo escolhem suas profissões. Não é, majoritariamente, pelo gosto da coisa, mas pelo que a coisa irá render. Como se não bastasse, com o consumismo exacerbado que é proliferado através do capitalismo, os indivíduos vão cada vez mais sendo escravizados por uma determinada renda, que, geralmente, nunca é suficiente.

E mais, para o meu desgosto, em meio a essa artimanha do poder de consumir que escraviza, poucos são despertos para questionar o sentido real da vida. Poucos, mesmo em meio ao caos gerado pela dívida, despertam-se a ponto de terem a curiosidade de saber se é necessário de fato consumir tanto, endividar-se tanto, trabalhar tanto a ponto de não perceber e presenciar seus filhos crescendo.

O que é mais cansativo e enfadonho para uma ave do que ficar presa em uma gaiola? O que pode ser mais tedioso para um tigre do que viver num zoológico? O mesmo ocorre com um ser humano que escolheu determinada profissão pela renda ao invés do gosto. Estará sempre preso, sempre condenado a não saber como seria caso tivesse escolhido fazer o que gosta. Uma ave que desistiu de sair da gaiola ou um tigre que se ambientou com o zoológico é o mesmo que um homem que perdeu a curiosidade em saber. Saber como seria (fazer o que gosta), saber como é (fazer o que gosta), saber como era (fazer o que não gostava). Esta curiosidade não mata, mas desperta. Desperta para a vida e para a aprendizagem; que liberta e faz do indivíduo feliz.




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