por Douglas Weege
A culpa não é do futebol. Este é
apenas um esporte como qualquer outro (mesmo os amantes do futebol, como eu,
devem aceitar isso) e, como qualquer outro esporte, é realizado, desenvolvido e
idealizado por pessoas. Aí reside o problema: pessoas. Com o interesse privado
subordinando o interesse público nos deparamos com um problema de gestão. Não
desta gestão, mas da cultura governamental instaurada desde a muito tempo em
nossa nação. Aí reside, em grande parcela, o que podemos chamar de culpa. A
culpa, como em qualquer esporte coletivo, não é individual, mas de grupo e,
deste modo, todos nós estamos inseridos.
Como alguém capaz de se colocar
em uma mesa cirúrgica para aumentar ou diminuir partes de seu corpo para
inserir-se num certo padrão de beleza, tosco e medíocre, diga-se de passagem,
pela preocupação exacerbada com a aparência a qualquer custo, assim encontra-se
a nação da "Copa das copas". Antes que me julguem candidato a
guilhotina, não me refiro aos procedimentos estéticos tidos, ditos e
comprovados como necessários a partir dos profissionais médicos, mas aqueles
que partem de indivíduos cujo psicológico, social e intelectual sofrem por
alguma falta e precisam preencher essa com uma pretensa "boa imagem",
segundo os padrões "estabelecidos", perante o espelho. Fato é que
transformaram a nação da referida Copa em uma "piriguete" ou, quem
sabe, "mulher-fruta" e, neste solo, se produz para todos os gostos.
Sim, todos sabem o que é isso. Aquela menininha nada inocente que vende-se como
um mero produto e para tal precisa investir em sua aparência, mas naquela
aparência que apenas interessa ao "mocinho", geralmente, mocinho
rico. Ela faz de tudo para conquistá-lo. Ela quer e precisa dizer: cheguei! O
país das maravilhas tentou, está tentando, dizer isso. "Piriguete"
alguma aceita ser a sexta economia mundial e para não ficar atrás, precisa
embelezar-se, enfeitar-se, tocar um samba e fazer a "Copa das copas".
Mas...
A copa não se faz com hospitais.
Não?
E os hospitais são feitos com a
copa? Muito menos.
A inaceitabilidade da "Copa
das copas" se refere, em grande medida ou quase exclusivamente, ao não
cumprimento de inúmeras promessas e aos gastos exorbitantes e inexplicáveis com
gramados, cadeiras, camarotes, restaurantes, coberturas, etc. que estão
localizados dentro de alguns específicos locais, os estádios. Tais estádios
deixaram um legado. O legado do interesse de poucos em detrimento da necessidade de
muitos. Vale lembrar, a culpa não é do futebol.
Como amante do futebol gosto de
um bom gramado, faz bem um acento confortável para acompanhar um jogo, é válido
uma variedade mínima de gastronomia, etc. Diversos atrativos são importantes em
diferentes contextos e em variados esportes. Entretanto, o direito a educação
de qualidade, saúde digna, segurança, etc. não podem ser esquecidos em detrimento
de qualquer que seja o evento. Tenho certeza que a vida humana está acima de
qualquer coisa. Mas, a culpa não é do futebol.
Não tendo copa, tais verbas
seriam empregadas na educação, saúde, segurança e tantos outros elementos que a
população brasileira tanto precisa? Sem qualquer ingenuidade, infelizmente não.
Todas essas áreas essenciais e necessárias para a sociedade não passam, quase
sempre, de promessas políticas nunca cumpridas e assim continuarão na muito
próxima eleição. Não deste partido ou daquele, mas de todos. A culpa não é da
esquerda nem da direita, mas de ambos. Entretanto, não consigo, sabendo disso,
me divertir com o batuque, enfeitar o carro, a casa e simplesmente fazer de
conta que tudo está uma maravilha. Não está. Mesmo assim, não me acho no
direito de torcer contra a seleção. Pois, a culpa não é do futebol.
Escândalos no tênis, voleibol e
outros esportes já foram por vezes elencados na mídia e também
esquecidos.
A culpa não é do esporte.
A culpa não é do futebol.
A culpa não é da seleção.
A culpa é da falta de caráter,
da falta de vergonha na cara
e dos "apertos de mão".
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