24 de maio de 2014

A culpa não é do futebol!


por Douglas Weege

A culpa não é do futebol. Este é apenas um esporte como qualquer outro (mesmo os amantes do futebol, como eu, devem aceitar isso) e, como qualquer outro esporte, é realizado, desenvolvido e idealizado por pessoas. Aí reside o problema: pessoas. Com o interesse privado subordinando o interesse público nos deparamos com um problema de gestão. Não desta gestão, mas da cultura governamental instaurada desde a muito tempo em nossa nação. Aí reside, em grande parcela, o que podemos chamar de culpa. A culpa, como em qualquer esporte coletivo, não é individual, mas de grupo e, deste modo, todos nós estamos inseridos.

Como alguém capaz de se colocar em uma mesa cirúrgica para aumentar ou diminuir partes de seu corpo para inserir-se num certo padrão de beleza, tosco e medíocre, diga-se de passagem, pela preocupação exacerbada com a aparência a qualquer custo, assim encontra-se a nação da "Copa das copas". Antes que me julguem candidato a guilhotina, não me refiro aos procedimentos estéticos tidos, ditos e comprovados como necessários a partir dos profissionais médicos, mas aqueles que partem de indivíduos cujo psicológico, social e intelectual sofrem por alguma falta e precisam preencher essa com uma pretensa "boa imagem", segundo os padrões "estabelecidos", perante o espelho. Fato é que transformaram a nação da referida Copa em uma "piriguete" ou, quem sabe, "mulher-fruta" e, neste solo, se produz para todos os gostos. Sim, todos sabem o que é isso. Aquela menininha nada inocente que vende-se como um mero produto e para tal precisa investir em sua aparência, mas naquela aparência que apenas interessa ao "mocinho", geralmente, mocinho rico. Ela faz de tudo para conquistá-lo. Ela quer e precisa dizer: cheguei! O país das maravilhas tentou, está tentando, dizer isso. "Piriguete" alguma aceita ser a sexta economia mundial e para não ficar atrás, precisa embelezar-se, enfeitar-se, tocar um samba e fazer a "Copa das copas". Mas...

A copa não se faz com hospitais. Não?

E os hospitais são feitos com a copa? Muito menos.

A inaceitabilidade da "Copa das copas" se refere, em grande medida ou quase exclusivamente, ao não cumprimento de inúmeras promessas e aos gastos exorbitantes e inexplicáveis com gramados, cadeiras, camarotes, restaurantes, coberturas, etc. que estão localizados dentro de alguns específicos locais, os estádios. Tais estádios deixaram um legado. O legado do interesse de poucos em detrimento da necessidade de muitos. Vale lembrar, a culpa não é do futebol.

Como amante do futebol gosto de um bom gramado, faz bem um acento confortável para acompanhar um jogo, é válido uma variedade mínima de gastronomia, etc. Diversos atrativos são importantes em diferentes contextos e em variados esportes. Entretanto, o direito a educação de qualidade, saúde digna, segurança, etc. não podem ser esquecidos em detrimento de qualquer que seja o evento. Tenho certeza que a vida humana está acima de qualquer coisa. Mas, a culpa não é do futebol.

Não tendo copa, tais verbas seriam empregadas na educação, saúde, segurança e tantos outros elementos que a população brasileira tanto precisa? Sem qualquer ingenuidade, infelizmente não. Todas essas áreas essenciais e necessárias para a sociedade não passam, quase sempre, de promessas políticas nunca cumpridas e assim continuarão na muito próxima eleição. Não deste partido ou daquele, mas de todos. A culpa não é da esquerda nem da direita, mas de ambos. Entretanto, não consigo, sabendo disso, me divertir com o batuque, enfeitar o carro, a casa e simplesmente fazer de conta que tudo está uma maravilha. Não está. Mesmo assim, não me acho no direito de torcer contra a seleção. Pois, a culpa não é do futebol.

Escândalos no tênis, voleibol e outros esportes já foram por vezes elencados na mídia e também esquecidos. 

A culpa não é do esporte.
A culpa não é do futebol.
A culpa não é da seleção.
A culpa é da falta de caráter,
da falta de vergonha na cara
e dos "apertos de mão".

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