23 de fevereiro de 2014

Um breve falar sobre a ignorância e a sabedoria



Penso que (talvez?) a coisa mais triste na vida de uma pessoa é ser ignorante. Tomemos inicialmente de modo bem simples a ignorância como o não saber.

Reflita:

Não é triste não saber?

Não é triste não conhecer algo?

Não é triste pensar que talvez isso que você não sabe pode modificar por completo sua vida?

Não é triste imaginar que talvez o que você não conhece é a "verdade", ou ao menos esteja muito próximo dela, e o que você pensa ser a verdade não passa de um engano? 


Para entender a importância de tais questões é necessário compreender o que, realmente, é a ignorância e de que modo ela interfere em nossa vida. Pois bem, deixando de lado o que pensa o senso comum e nossa intuição, é possível definir, ainda que brevemente, mas não superficialmente, que a ignorância é o estado em que o indivíduo se encontra em que ele não sabe que não sabe. Note, mais do que ser uma pessoa que não sabe, o ignorante é aquele que não sabe que não sabe. Todos em algum momento já passaram por uma experiência de descoberta. Descobrir algo é tomar consciência do não sabido, ou melhor, do não saber que não sabia. Vivia, ao menos em relação a tal saber, na ignorância. O problema é se este saber não conhecido for, por exemplo, a felicidade. Isto é: e se você e eu pensamos que a felicidade é tal coisa quando de fato ela é outra coisa que sequer pensamos? Ora, vivemos não só como ignorantes, não só na ignorância, como uma vida inteira ignorante, ou seja, ignorando o que, de fato, é, neste exemplo que usamos, a felicidade. Vivemos, se assim for, uma vida inteira totalmente enganados, enfadados, enamorados pela ignorância. Pois bem, existem algumas características que marcam o ignorante e, em contrapartida, o sábio.

O indivíduo que não sabe que não sabe, o ignorante, é convicto das coisas, ou seja, tem certeza que a felicidade é "x", tem convicção que justiça é "y" e/ou está plenamente certo de que o sucesso profissional é "z", entretanto, não tem qualquer base, argumento, fundamento minimamente razoável para pensar tais coisas. Veja, o problema da ignorância não reside no fato de o indivíduo ter convicção das coisas, mas sim, em ter uma certeza tal sem qualquer fundamentação razoável. Por essa convicção e por esta característica é perda de tempo discutir, conversar e/ou tentar dialogar seja lá sobre o que for com um ignorante, pois ele já tem antecipadamente certeza das coisas. Não importa o que você fale, não importa a maneira como você dialoga, não interessa nem mesmo se você prova o contrário do pensamento de tal indivíduo, ele dirá que você está errado e que ele está certo. Portanto, não precisamos perder tempo com ignorante. É preciso gastar tempo para não ser ou não se tornar um. Segue então algumas dicas para não viver enganado e enganando-se.

Se a ignorância é o estado em que o indivíduo se encontra em que ele não sabe que não sabe, qual é o estado em que se encontram aqueles que se propõem o caminho inverso ao da ignorância? De maneira bastante objetiva pode-se dizer que o estado inverso ao da ignorância é a incerteza. O que a incerteza? É o estado em que o indivíduo se encontra em que ele sabe que não sabe. Ora, de qualquer modo então não sabemos? Que diferença faz ser ignorante ou incerto? A diferença é bastante crucial e suficiente para modificar a vida de uma pessoa. Se o indivíduo ignorante não está aberto ao diálogo, a conversa, ao debate e no fim das contas ao saber, o indivíduo incerto mais do que nunca estará disposto a ouvir, conversar, dialogar e encontrar boas razões, motivos minimamente razoáveis para pensar que a felicidade é tal coisa e não outra, que a justiça é A e não B, que o sucesso profissional é C e não D. Note que entre o ignorante e o incerto há um abismo. O ignorante não está, de fato, aberto ao saber, enquanto, o incerto está sempre buscando e querendo conhecer. O ignorante sempre tem uma resposta final e acabada para as coisas, o incerto tem sempre uma pergunta e uma dúvida para lhe enriquecer.

Por quê, então, é razoável pensar que é melhor ter dúvida e ser um indivíduo incerto do que ter certeza e ser um indivíduo ignorante?

Bem, gosto neste momento de lembrar de Sócrates (469 a.C.-399 a.C.), um filósofo ateniense que viveu no período clássico da Grécia Antiga. Não é novidade para ninguém que neste período viveram grandes pensadores que vieram a influenciar a história da humanidade em vários campos do saber humano até os dias atuais. Haviam, verdadeiramente, gênios do pensamento. Intelectuais do mais alto escalão. Neste contexto, Sócrates viria a ser reconhecido como o maior dentre todos os sábios. No entanto, a frase do filósofo que ecoou durante toda a história humana foi "só sei que nada sei". É simplesmente espetacular pensar que aquele homem reconhecido como o maior de todos os pensadores de sua época tem uma única certeza, a saber, que ele nada sabia. Ele nos deixa uma lição: quanto mais vamos tendo consciência que sabemos e conhecemos as coisas mais nos tornamos ignorantes e quanto mais vamos tendo consciência que nada sabemos e nada conhecemos mais nos tornamos sábios. Isso não significa que nunca chegamos a respostas para determinadas perguntas, mas apenas que a medida que vamos conhecendo as coisas mais tomamos consciência de inúmeras outras coisas que não conhecemos. Ora, neste sentido, entre não saber que não sabe e saber que não sabe é muito melhor saber que não sabe, já que esta consciência do não sabido, na medida que conheço, me permite saber, apreender e viver a noção de felicidade (ao menos) mais próxima do que, de fato, venha a ser a felicidade.

O ignorante, arrogantemente, dá respostas. O sábio, humildemente, faz perguntas.


2 comentários:

  1. É a velha diferença entre o ignorante e o estúpido.
    Ao contrario do que se pensa, estúpido é aquele que não sabe mas tem vontade de aprender.
    Até mesmo a expressão está errada: "Desculpe a minha ignorância, mas pode me explicar de novo?" O certo seria "desculpe minha estupidez..." Uma vez que se deseja nova explicação. (o ignorante não quer ouvir explicações).
    Penso eu, na minha mania de achar que Deus é real, que é inevitável o não saber, pois a mente de Deus não pode ser compreendida, não pode estar contida, na mente do homem. Assim como um litro de água não cabe em um copo de requeijão (300 ml).
    Saber tudo seria ser igual a Deus! Impossível com o pecado.

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  2. GRANDE YURII, OBRIGADO POR SEU COMENTÁRIO.

    O TEXTO APONTA A DIFERENÇA ENTRE IGNORÂNCIA E SABEDORIA. NÃO TOCO NA ESTUPIDEZ, JÁ QUE PENSO ESTAR MUITO ENTRELAÇADA COM A IGNORÂNCIA. APENAS PARA NÃO INTERPRETÁ-LO ERRADO DIGA-ME: AO DISTINGUIRES IGNORANTE E ESTÚPIDO RELACIONAS A ESTUPIDEZ COM A SABEDORIA?

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