Qual o problema?

Sabe-se, majoritariamente, que o filósofo busca responder e/ou resolver os problemas de seu tempo. Seja no que diz respeito à natureza, a ética, a política, a lógica ou a religião todos os filósofos contribuem para resolver, aprofundar ou indicar um problema que requer indispensável atenção. Isso é evidente desde a antiguidade.

É explícito na contemporaneidade que, embora a humanidade tenha conhecido através da história filósofos brilhantes, nem todos os problemas foram solucionados, alguns novos foram aparecendo e outros ainda parecem pouco analisados. Isto ocorre porque na medida em que os filósofos se debruçam a solucionar o problema x se defrontam com a aparição dos problemas x’, x’’, x’’’, e assim por diante. Por isso, não é arriscado dizer que, atualmente, a busca filosófica pela verdade se identifica não com a pretensão de uma resposta final e acabada para dado problema (se isso ocorrer, e se isso for possível, ótimo!), mas com vista “no alargamento da consciência acerca dos conceitos que utilizamos para pensar o que acontece em nós e ao nosso redor” (BRAIDA, 2008). Ou seja, trata-se de, com o rigor característico da filosofia e sua diversidade metodológica, investigar problemas atuais com intuito de melhor compreendê-los e/ou, quem sabe, solucioná-los. Portanto, objetiva-se aqui possibilitar um olhar crítico e nada dogmático no que se refere à sociedade contemporânea ocidental. Mas como fazer isso?

Por um lado, não é fácil escolher, diante do universo acadêmico, um único problema para analisar com intuito a compreender o tempo presente. Por outro, é característica do exercício filosófico a delimitação do que se quer debater/pensar. No que se refere à sociedade contemporânea ocidental inúmeros são os problemas intelectuais que os estudiosos almejam solucionar. Como indigesto da fragmentação epidêmica do conhecimento, onde tudo é colocado em uma caixinha, fui tentado a identificar entre essa pluralidade de interrogações o (grande?) problema da atual sociedade que, sem dúvida, está no cerne da pesquisa dos diversos campos das ciências humanas e, mais do que isso, aquele do qual ninguém consegue se ausentar. Mas como identificar determinado problema? Uma estratégia simples e produtiva é, ainda que intuitivamente e preliminarmente, criar uma lista de perguntas sobre o tema fixado com intuito a identificar, nessa listagem, o problema que perpassa, ainda que de forma oculta, cada uma das questões. Pois bem, poderia se listar: 1) o que é a sociedade contemporânea ocidental? 2) qual o problema desta sociedade? 3) quais as suas características? 4) a partir de quais valores ela está fundamentada? Etc. A lista é grande. Tais perguntas podem surgir a partir de interesses antropológicos, sociológicos, filosóficos, entre outros. Entretanto, independente do interesse e preocupação, se a intenção for seguir dogmaticamente a teoria marxista, um fator parece se manifestar, ainda que ocultamente, nessas questões, a saber, o econômico. A economia parece perpassar ainda que de maneira oculta todos os quês e porquês da atual sociedade ocidental. Mas o oculto, que se manifesta e que se permite aparecer ou revelar, parece ter mais a ver com outro fenômeno, isto é, o religioso. Sendo assim, o problema fundamental a ser equacionado no tempo presente parece poder ser relacionado a religião. Isso não significa que o econômico, o ético, o político, etc. não precisam ser resolvidos e/ou debatidos. Significa apenas que para analisar a sociedade presente é preciso investigar criticamente o alicerce em que ela se fundamentou, isto é, não meramente uma economia, mas uma teologia econômica, em suma: o capitalismo. 

É indispensável, portanto, no atual momento (re)fazer certas perguntas com muito mais seriedade e rigor. É preciso perguntar: o que é, de fato, o capitalismo? o que é, desde sua origem, a economia? em que se funda o chamado capitalismo? o que é aquilo pelo qual chamamos econômico? etc. Investigando tais questões perceberemos que muito antes de um problema político, ético, filosófico ou econômico, estamos diante de um surpreendente problema religioso (teológico), na medida em que este serviu de base e/ou de pano de fundo para o surgimento de ciências, sistemas, teorias e/ou ideologias posteriores.