por Douglas Weege
O
problema que estou disposto a apontar não é, à primeira vista, simples de
equacionar. Alguns agentes alienantes – como a mídia, principalmente – nos impulsionam
a não perceber a necessidade de lidar com uma temática nada convencional e que
nos passa, por vezes, despercebida. A alienação gerada pela falta de senso
crítico da atual sociedade global é um dos motivos que levam a humanidade a não
perceber uma possibilidade no mínimo espetacular, sem qualquer juízo de valor,
em nossos dias, a saber: a possibilidade de pensar o capitalismo como religião.
Segundo
Walter Benjamin (1892-1940), o principal teórico da questão proposta, “One can behold in capitalism a
religion”. Obviamente, por trás desta afirmação, há um conjunto bastante
extenso de argumentações possíveis de explorar e isto faremos em outro momento.
Apenas de modo introdutório é razoável, com isso, dizer que Benjamin se
diferencia de Max Weber (1864-1920), pois este, como é sabido, e conforme o
próprio Benjamin elucida, constata que o capitalismo
é uma formação condicionada pela religião.
Deste modo, enquanto, por um lado, Weber salienta de forma ímpar a influência
de vertentes religiosas bem específicas com relação ao capitalismo, por outro lado, Benjamin evidencia o capitalismo propriamente como fenômeno
religioso. Mas não podemos descartar Weber. Sua análise é extremamente
importante, pois segundo Michel Löwy, Benjamin em seu, nas palavras de Löwy,
obscuro fragmento “Capitalismo como
Religião” é totalmente influenciado pela obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber.
Portanto, estamos diante de duas possibilidades: primeira, a de Weber, de
perceber e constatar a formação do capitalismo
através de uma determinada vertente religiosa; segunda, a de Benjamin, de
perceber e constatar o capitalismo
como propriamente um fenômeno religioso.
Para dar conta das teses assinaladas por Weber e Benjamin, mencionadas no
parágrafo acima, é necessário ir a fundo ao que ambos estão entendendo por capitalismo e por religião. De fato, esta necessidade é sabida desde o início.
Entretanto, isto faremos em outro momento, pois outro autor também nos fará fitar os olhos em sua análise e
discutir a plausibilidade de sua tese. Trata-se de Giorgio Agamben (1942-).
Diferentemente de Benjamin e mais próximo da estratégia weberiana, Agamben,
também influenciado pela obra de Weber, constata uma posição contrária àquela
exposta na “Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo”. Se, por um lado, em Weber, ficamos diante da
constatação de que o capitalismo é
uma formação condicionada pela religião
e, em seu caso, pelo protestantismo. Por outro lado, em Agamben, temos a mesma
constatação inicial, a saber, de que o capitalismo
é uma formação condicionada pela religião,
entretanto, neste caso, pelo catolicismo. Deste modo, estamos agora diante de
três possibilidades: primeira, de Weber, em que se argumenta o capitalismo como originado no
protestantismo; segunda, de Benjamin, em que se argumenta o capitalismo como propriamente uma religião; e terceira, de Agamben, em que
se argumenta o capitalismo como
originado no catolicismo.
As três teses não são
fáceis de lidar. Por isso, fica evidente a necessidade de explorar o que se
pode entender por capitalismo e o que
se pode entender por religião para em
seguida discutir, com auxílio de outros pensadores, as três possibilidades
mencionadas anteriormente. Deste modo, e só após essa investigação, parece
possível discernir e apontar a plausibilidade de uma ou outra argumentação,
isto é, sobre a possibilidade ou não de pensar o capitalismo como religião. Obviamente não temos a pretensão de expor aqui toda a abordagem que a temática sugere, mas apenas salientar uma questão que necessita ser debatida e que, por vezes, passa despercebida, isto é: a relação ou inseparabilidade entre capitalismo e religião.
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