por Douglas Weege
Já especulei de forma particular ou publicamente alguns pontos em relação ao cenário político brasileiro, assim como, também, já testemunhei conversas variadas sobre o assunto. Na realidade todo brasileiro já esteve nessa ou naquela circunstância, e o que parece claro para quem se propõe olhar seriamente ao espetáculo da política tupiniquim é que, tanto em uma quanto em outra situação, a falta de imparcialidade para discutir as questões públicas manifesta-se como a regra do jogo. Não do jogo político, mas da famosa politicagem.
Se a inconstitucionalidade (ou não) de uma ação, processo ou investigação está fundamentada unicamente pela bandeira que este ou aquele defende, qualquer juízo sobre qualquer coisa na esfera pública fica questionável, na medida em que é a bandeira e o vínculo partidário que interpreta a constituição como lhe convém. Geralmente essa conveniência tem ocorrido quando algum “inconveniente” surge para a imagem de A, B ou C. No fundo, parece ser isso que caracteriza a maioria dos gritos no Palácio do Planalto e os resmungos cá e lá nos meios de comunicação de massa.. Gritos esses que, na verdade, refletem o modo de participação política de “grande parte” dos brasileiros (eu disse “grande parte” e não todos).
A falta de imparcialidade diante de denúncias, investigações e possíveis provas, bem como o olhar para o outro como o inimigo a ser eliminado alimenta justamente o inverso do que tanto a democracia estima: a diversidade de ideias, o respeito pelo outro, o diálogo, a tolerância, etc.. O cenário político brasileiro beira o caos, uma vez que não só não se discutem as ideias como sequer elas são ouvidas. Tudo o que vem do outro lado, da outra bandeira, do inimigo, é considerado ofensivo e dispensável. A proximidade do caos, a evidente crise e a impossibilidade de uma resolução estabelecidos pela falta de diálogo com o outro decreta não só o enfraquecimento, mas a derrota da democracia em situações pontuais e determinantes. Trata-se, sobretudo, da derrota da liberdade de expressão. Rotular quem se manifesta no dia x como elite branca, conservadora, coxinha e reaça ou quem se manifesta no dia y como esquerdopata não passa de uma alimentação do ódio entre dois grupos que deveriam estar dialogando para alguma solução e não guerreando em torno da gênese da corrupção.
Neste contexto em que é difícil vislumbrar alguma solução cabe interrogar: E quando a democracia perde, quem vence? A resposta não é única, mas vence, principalmente, a intolerância. Perde o diálogo, vence a acusação. Perde a política, vence a politicagem. Perde o respeito, vence o ódio. Perde o povo, perde a nação. Portanto, cabe justamente ao povo, que é quem detém o cratos, intervir na esfera pública com tolerância, diálogo, respeito e imparcialidade diante da realidade. Só com essa atitude cidadã alguma esperança é possível num cenário em que boa parte de nossos representantes parecem ficar de mãos atadas devido às alianças partidárias e possível envolvimento nos, cada vez mais indigestos, escândalos de corrupção.
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